Sunday, November 15, 2009

Vinte Anos do Muro de Berlim

por Denis Minev

Esta semana comemorou-se os vinte anos da queda do muro de Berlim, símbolo do grande confronto do século XX. O confronto da Guerra Fria, apesar do grande destaque recebido nos livros de história, desvanece no imaginário popular. Quem lembra dos motivos que União Soviética e Estados Unidos brigavam? Vinte anos atrás termos como Praça da Paz Celestial, Ceaucescu, Sakharov, Solidariedade e Perestroika carregavam consigo a vinculação com o destino humano. Para a geração atual, somente buscando estes termos no Google ou Wikipedia.

Vale tentar lembrar o motivo de tanto drama com a queda de um simples muro. Muros, através da história, foram construídos quase sempre com os mesmo propósitos: proteger aqueles do lado de dentro daqueles do lado de fora. Onde quer que seja que você mora, olhe para o seu muro e reflita por um instante para que ele serve. O Muro de Berlim, entretanto, era especial. Ele era um muro que buscava impedir aqueles que estavam dentro de sair; a unica analogia é uma prisão. Os governos comunistas do Leste Europeu e União Soviética aprisionaram seus cidadãos, por detrás deste muro, por quase meio século.

Em meio a esta prisão de larga escala que englobava China, União Soviética e Leste Europeu e da qual o único resquício moderno é Cuba, ocorreram algumas das maiores tragédias humanas do século XX. Alguns termos para procurar no Google seguem: holodomor, o Grande Expurgo, a Revolução Cultural, Khmer Vermelho, Gulag, apenas para citar os exemplos mais conhecidos que consumiram dezenas de milhões de vidas. A ligação direta entre cada um destes casos é que a tragédia humana em cada um deles não foi causada por guerra, mas por políticas internas de governo. Desafio o leitor a encontrar tragédia de magnitude semelhante que uma democracia tenha infligido ao seu próprio povo.

A história é vasta (e fascinante), mas não cabe nestas breves linhas. Resumo então o motivo da queda daquele muro a uma palavra: liberdade. Faz-se importante então traduzir o que é liberdade no dia-a-dia. Um cidadão livre pode buscar, ter e expor a opinião que quiser a respeito de qualquer pessoa, partido ou idéia -- por detrás do muro, iria-se preso por opiniões "indesejáveis" ou mesmo por posse de material ideológico "perigoso". Um cidadão livre tem a segurança de que seu governo não vai agir com arbitrariedade contra ele -- por detrás do muro, sumia-se nas garras de polícias secretas sem motivo ou oportunidade de defesa ou morria-se de fome sem a oportunidade de trabalhar. Um cidadão livre pode fazer o que bem quiser com sua propriedade ou vida, seguir a carreira que desejar, se movimentar ou se mudar conforme seu desejo -- por detrás do muro, o governo determinava seu destino profissional, econômico, político e geográfico.

O Brasil, apesar de todos os defeitos, constitui-se neste início de século XXI de um país bastante livre. Temos eleições abertas e competitivas, nossa imprensa é livre, nossos cidadãos são livres para escolher seu destino profissional, geográfico ou pessoal, nossa justiça oferece amplo espaço de defesa contra arbitrariedades ou expropriações por parte de governos, temos acesso a informações e produtos produzidos em quaisquer lugar do mundo. Nós amazônidas devemos reconhecer ainda mais o valor desta liberdade, como território de fronteira para onde migraram povos sob opressão desde árabes a judeus, japoneses a nordestinos, todos migraram para uma Amazônia de oportunidades e liberdades.

É neste contexto histórico que gostaria de conclamar o leitor a refletir por alguns minutos a respeito da sociedade na qual vivemos. Celebremos também que, há parcos vinte anos atrás, quase 500 milhões de pessoas passaram a viver em sociedades livres. Indignemo-nos toda vez que meios de imprensa de oposição sejam fechados, cidadãos tenham seu "sumiço" estatal ou sua saída impedida. E que muros nunca sirvam para evitar nossa saída.

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